sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O último fim

Foto: Saulo Nery

Quando Ana Luiza falou em como filmagens tendem a ser sempre imprevisíveis, já passávamos meia-hora do término das gravações. Final digerido, cravei, com alguma ênfase, que tinha feito qualquer coisa, menos o filme que planejei fazer. O tom foi irônico, sem intenção de ser levado a sério, mas havia ali - mesmo que bem discreta - alguma dose de verdade. Só que isso não é necessariamente ruim.

Em meio a fatalidade, chuva e problemas com equipamento, gravamos só 20% dos planos no primeiro dia, o que resultou em cabalísticos 6,66GB. Roteiro técnico teve de ser refeito, sendo que no último dia combinamos de gravar por duas horas a mais como tentativa de compensação. As duas se transformaram em uma e, após pausa para almoço, praticamente tudo virou take de cobertura a ser decidido na hora. Nenhum plano foi gravado mais de cinco vezes, e repetição deles, quando havia, não foi ditada por análise de combinação entre som (que não ouvia), imagem (que pouco via, quando via) e atuação de elenco (que geralmente não poderia julgar àquela distância), mas sim pelo tempo, no sentido da luz e do cronômetro. O perfeccionismo, na prática, se transformou no ter que decidir entre uma boa cena, uma boa atuação, ou um filme.

Em conversa com Bruna, minutos depois de filmagem, disse que, em setembro do ano passado, quando comecei a escrever roteiro, estava no início de um relacionamento perfeito. Como tal, o futuro era idealizado pela imaginação, único lugar onde a continuidade dele existia. Passado mais de um ano, romantismo foi pragmatizado, discussões fortaleceram e desgastaram relação, marcante e próxima do caminho sem volta. Ontem acabamos, mas voltamos em janeiro, os dois sabem disso, pela última vez.

Após ela, sobem os créditos da relação, e fruto dela passa a não ser nosso. Espero que resultado me agrade, obviamente, mas também que ele agrade aqueles que acreditaram em projeto.

Agora, o filme e eu precisamos da mesma coisa: descanso e distância um do outro. Um natal bacana a todos, especialmente àqueles que deram sua contribuição para a feitura de
Nunca mais vou filmar.

2 comentários:

  1. Final de ano: momento de parar e refletir o que planejamos e o que realmente fizemos... muita coisa se mistura nesse meio tempo. Mas o fato é que, agora, é momento de esquecimento para renovação das energias pro novo quem vem e não espera por ninguém. Se prepare!!!

    Desde 2009, quando trabalhamos juntos, você mostrou determinação naquilo que queria fazer, e continuou fazendo em 2010. 2011 é ano de colher bons frutos.

    Muita garra e sucesso a você e vida longa a "Nunca mais vou filmar".

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  2. Valeu, Ed.

    Agora é torcer para que a distância só faça bem aos dois, especialmente ao filme, o que importa no fim das contas. Que ele seja bom o suficiente para o título não ser profético.

    A propósito, quero ver JOELMA pronto em 2011. Um filme com aquele final (se permanece o mesmo) não tem como ficar razoável. É de muito bom para cima.

    Grande abraço!

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