sábado, 9 de outubro de 2010

Poesia cruel*

* O texto a seguir foi publicado no 7 cronistas crônicos, com reação e sensações causadas pelo teste da quarta-feira (6).

Escrever é fácil. Você escolhe, apaga, substitui, você assassina palavras sem dó e sem ser punido. Ninguém fica triste, nem você nem elas. Mesmo maravilhas como
batráquio, estrambólico, somítico (descobri como sinônimo de avarento), todas vivem felizes; citadas aqui ou não, podadas ou mantidas pelo editor. O mesmo pode valer para pedaços de filme: a película em si, quando cortada, vira resto, o que importa é o resultado final. Só que aí entra uma crueldade que não costuma se contar.

Em filmes com orçamentos generosos e procura farta, vídeos de
youtube e extras de DVD me disseram que os testes de elenco costumam ser rápidos. Em retrato do século XXI, sobra gente e falta tempo.

Mas não é assim com quem começa, até porque quem começa, tratando da regra, não tem dinheiro. Sem ele, as coisas só funcionam à base de afinidade e camaradagem, e não é fácil ser um profissional em semelhante início e topar algo por igual (falta de) garantia de retorno.

A publicidade e o número de interessados, entre atores e atrizes, são bem menores. É preciso não apenas um cada vez mais raro grau de desprendimento, mas também razoáveis doses de desejo, empatia e identificação.

Nesse caso específico da audição, o romantismo beirou a poesia. Mas se a poesia nos remete à arte e ao que é belo, quando se fala em meio, ela se liga, primeiramente, à escrita. E no teste não há espaço para a escrita.

Tudo vira imagem. Mas tudo também é orgânico. Não há sinônimos, não há equivalentes.

O que existe, ou existiu ali, foi um ambiente entre colegas; alguns amigos, outros que ficaram. Todos parceiros em atividades irmãs ou complementares.
Deu vontade de escrever, se não outro roteiro, pelo menos mais dois ou três personagens. Eles e elas mereciam.

Ps: Muito obrigado, Edgard, pelas palavras que os manuais não dizem.

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