domingo, 10 de abril de 2011

A música de Berlusconi

Sexta-feira, dia de gravação da trilha sonora, 7h15 da manhã. Em Itabuna, Ilhéus e Uesc, onde deveríamos estar às 8h, está tudo cinza, cortesia da chuva, que veio descontrolada. Um convite a tudo, menos a andar com instrumentos e amplificadores pela rua.

Na quarta-feira (6), a Uesc oficializou a greve dos professores, que ganhou adesão de estudantes e funcionários, justamente para a sexta-feira em questão, também chamada de anteontem. Em outras palavras, teríamos ela e apenas ela para resolver tudo da trilha sonora - e também para continuar montagem do filme, mas isto é uma outra questão.

Às 8h30 já tinha tentado falar com Deng (Thiago Ferreira) duas vezes, ambas em vão, situação que continuou até 9h, quando recebi primeira mensagem dele. Estava sem poder sair do trabalho, de onde me mandaria notícias assim que possível, o que só veio às 9h30, quando cravou: “10h tô liberado”. O porém é que, com início da greve no dia, manifestantes pararam carros na entrada da universidade, o que dava a todos a garantia de tomar, pelo menos, 100 metros de chuva; incluindo aí, obviamente, os instrumentos.

Não disse isso a Thiago, logicamente, mas liguei para a Uesc e soube que entrada já era permitida, na primeira boa notícia do dia, que logo teve uma réplica. Uma corda da guitarra que ele usaria escafedeu-se, o que o levou a trocar por guitarra antiga e, como consequência, perdemos mais alguns minutos. Como nosso horário ia até o meio-dia, teríamos, com tempo de ida para universidade e transporte de equipamento, pouco mais de uma hora para gravar, editar e mixar a música. Partimos para a Uesc, onde chegamos e vimos portão fechado, contra o que me foi dito. “O jeito é entrar pela saída”, pensamos juntos. A ré foi dada e, pimba!, beijo no pára-choque alheio. “Quando tudo parece melhorar, Murphy prova que está com saudades”, nos desesperamos juntos.

Por sorte, contudo, não apenas o barulho não afetou nenhum dos dois, como carro alheio era de ex-professora nossa (!) - que entendeu pressa.

Após período de subir com instrumentos, caixas, pedaleiras e afins, entramos no estúdio, nos aclimatamos e deixei Thiago onde ele se sente bem. A primeira nota foi gravada já depois das 11h, o que me deixou aflito, mas que foi inevitável. Às 11h45min terminamos introdução, e finalizamos primeira ideia da música como um todo às 13h, quando Thiago se aproximou da perfeição, quando preferimos ir além, por um caminho que ainda tateávamos, mas também quando Ady Lúcio pediu uma merecida pausa; afinal de contas, extrapolamos mais de uma hora de seu horário. No almoço, conhecemos um italiano (um italiano dono de restaurante no Salobrinho, WTF!) apaixonado por Frank Zappa e que parecia ter mais sotaque que Berlusconi. Tivemos que deixá-lo para gravarmos segunda parte outras vezes, muito mais do que imaginávamos, mas até momento em que realmente sentimos que não tinha mais para onde ir, no melhor dos sentidos.

Após muitas repetições e tentativas, música atingiu seu ápice sem soar mecânica. É o tipo de coisa difícil de conseguir em qualquer meio artístico, e que parece não existir definição melhor para isso que uma combinação do talento com o inexplicável. E o sacana ainda é um baita companheiro. Quando cheguei em casa, nem parecia que dia tinha começado tão ruim, nem parecia que alguém poderia chamar aquilo de trabalho.

A Uesc entrou em greve e montagem vai ter que parar? Contatos já foram feitos, é o que posso fazer até ter alguma novidade. Além, obviamente, de escutar 2min28s algumas vezes por dia.

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