terça-feira, 14 de junho de 2011

Um texto que não planejava nem queria escrever

Soube no domingo, já perto de meia-noite. Estava sem Internet e fui para a casa de uma tia, teoricamente, apenas para enviar arquivos de créditos e observações de finalização para Tiago Cavalcanti, que precisava deles na segunda. Para visita não ser tão rápida, entrei no Facebook. Priscilla me pediu para falar com Carol, o que fiz de bom grado, já que pela manhã (antes de Internet me deixar na mão) rolou uma agradável conversa cheia de amenidades. Agora não.

“Soube de Deng?”, me perguntou. Deng era como chamávamos Thiago Ferreira, autor da trilha sonora de NMVF, e que partiu de Salvador para Itabuna no domingo com mais três, incluindo pai e tia. A história dos quatro foi abreviada por acidente, já perto do destino, onde o carro deles encontrou a frente de um ônibus.

Seria exagerado dizer que era o melhor amigo de Deng, ou equivalente. Mas quando soube que estava em Salvador, liguei para ele e saímos na sexta, quando combinamos de sair também no sábado. Priscilla, Carol, eu e ele estávamos juntos até 2h da manhã de domingo, mas nos encontramos 18h, quando fomos pro MAM. Antes ele disse a Carol, sem lembrar que eu a conhecia, que os dois iriam com um primo dele. Nunca tinha me chamado de primo. Já no MAM, em um momento, estávamos apenas eu e ele.
- Deng, preciso ir no banheiro, man.
- Vai lá, pô.
- Você fica só aí de boa?
- Tô bem acompanhado.
Rimos, mas era verdade. Ele estava ouvindo e assistindo a músicos, a bons músicos, a uma música que ele gostava.

Antes do fim da noite, ainda tivemos direito à sua gim com tônica e à não menos tradicional conversa bacana. Deixei Priscilla em casa e, na vez de Deng, me perdi. Transformei os dez minutos que me levariam à casa dele em 20, 25. Não tenho o conforto oriental, nem a convicção religiosa que torne situação mais fácil, mas talvez não quisesse me despedir, simplesmente. Ainda não me desce a ideia de desligarem a tomada de alguém que, nove horas antes, estava rindo ao seu lado.

A sensação permanece horrível mas, pelo que conhecia de Deng, ele preferiria que ela fosse transformada em música, não descrita. Não tenho talento. Vi com ele que também não sei lidar com perda (ainda?), que para mim foi bem menor do que para mãe e irmãs, por exemplo. O que quer que deixe-as melhor, por favor.

Agora, e imagino que durante um bom tempo, é inevitável lembrar de The Spirit Carries On, de Dream Theater, que ele uma vez me disse ser “a melhor música gospel que existe”. Por Deng, torço para que ela seja algo além da coisa linda que é. E se ele mesmo prossegue seu caminho, que ele esteja em boa companhia; como estava no MAM, no meio dele, como estava com pai e tia, e como espero que tenhamos sido nesse meio.

Para quem não conhecia, perdemos um talento; para quem conhecia, um cara foda.

3 comentários:

  1. Me emocionei muito ao ler isso... sem palavras... to com um no na garganta!!!

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  2. Passo aqui às vezes (mas nunca comento nada), Leo, e também me emocionei muito. Soube deste acidente mas não conhecia ninguém envolvido...
    Nossa, muita paz de espírito!
    Forte abraço da amiga que entende o tal conforto oriental e a convicção religiosa...

    :)

    Tainá

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  3. Valeu, Tainá.

    Você sabe que te invejo por essas coisas, né?! =)

    Beijo

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